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Encontro Francês

Olhar sem piscar. O ritmo do encontro dos cílios inevitavelmente me faria atravessar o espaço de ar entre a mesa e o teto, meus olhos e os teus. Olhar sem piscar. O ritmado encontro dos meus cílios, os fluidos provocadores do deslize das pálpebras sobre os olhos, os movimentos impensados me fariam voar, invadir o teu espaço, esquecer do meu. Olhar sem piscar. Os sinos que já não tocam na capela seriam provocados, talvez caíssem, talvez o caos, talvez nada. Olhar sem piscar. Sem sorrir. Quase sem falar. Olhar. Ouvir-sem-escutar. Olhar sem piscar. Uma hora, ou meia, 40, 50 minutos? A mão suada e os pés frios. Olhar sem piscar. Livro ou dois. Lembranças ou nada. Olhar sem piscar até ir embora. Mesmo cheiro ou não, novo cheiro. Olhar sem piscar e então rir por cima de todo erro e mentira, imundície das bases fazendo feder qualquer passado bonito que poderia ter sido e não foi.
Olhar sem piscar fez a menina secar, talvez não a dos olhos, talvez a das fitas. E não, não tem colírio. Talvez tenha.

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