Mês: setembro 2009
amanhecendo
acordei meio assustada, seis e meia. o celular com uma chamada-não-identificada e três mensagens vazias. fui ao banheiro e ouvi um barulho que mais parecia um machado golpeando a porta de uma cabana no meio da floresta. voltei pro quarto, verifiquei se não havia nenhum monstro embaixo da cama. tou com medo de olhar o armário. não sei. sensação rara. ainda bem que já vou pra casa onde os anjinhos me protegem.
antecedentes penales, o retorno.
Se você já leu isto, pode seguir. Se não leu, tinha que ler antes de seguir. Também se não quiser, não precisa. Mas é claro que aquilo não terminou ali (aquilo que deve ser lido antes disto), aconteceu o seguinte:
previsões
tá vendo aquele cara lá? vai ficar com ele. e ele vai te destruir.
imediatamente depois de vê-lo pela primeira vez teve certeza de que a aproximação seria inevitável. também que depois da aproximação o melhor seria manter-se distante da melhor-amizade e do amor platônico. um dia aprendeu que as coisas destroem mais quanto menos esclarecidas são antes de virem a ser. difícil isso de chegar pertinho sem motivo pra ficar. ponto. tranquilize-se: o destino vai contribuir pra que tu te arrebentes toda, sempre. ponto. cadeiras vazias aproximam os solitários. os cigarros também. amigos: sabemos que não. que não. que não. que artistas não são pro bico dela. mas que sempre se mete com eles. com esses sinceros. sensíveis. grandes. barbudos. sabichões. é. sabe. se mete. se fode. cadeiras vazias. um comentário absurdo. um minuto de atenção. um relato intimo (vale qualquer coisa, inclusive: “este ano tive uma verruga embaixo do dedo mínimo do pé e matei ela com ácido”) para arrancar uma risadona. um sorrisinho safado. é assim que ela começa. de dupla. de saber-se diferente – totalmente oposta – e mesmo assim se meter lá no fundo do estranho. escuta: tu vai se perder no momento da aproximação. vai sim. tu sabe.
ps.: mas, se ele já te chamou de negrita, nenita e admirou o jeito engraçadinho que tu arruma o cigarro. esquece. como diria meu irmão nos anos 90: bailou.
as terças e as sextas
são os dias que não tenho nada obrigatório pra fazer. sim. tenho os textos. deveria ler uns trinta-e-nove artigos por hora pra ver se recupero a cultura que ficou anotada nos rótulos das cervejas que bebemos pra comemorar a vida. mas não consigo. hoje comecei com o meu amigo ari – o stóteles – e logo estava com as pernas verticalmente contra a gravidade comendo maçã – argentina – e lendo o utilitarismo, do stuart mill. me aborreci bastante. fui tomar um banho no banheiro com banheira-que-não-se-usa enquanto ouvia los hermanos. o tempo está meio murrinha hoje. de todas as maneiras, sequei os cabelos com secador de cabelos, cumprimentei o roommiiee querido e conversamos sobre algo do construtivismo enquanto ele analisava a linha do tempo que construí nas paredes do meu quarto pesquisando sobre a bauhaus e percebia que o post-it da bauhaus tinha caído. então me despedi e saí com os livros pendurados, o cachecól em uma mão, a caneta marca textos na boca e uma sacola de roupas sujas que fez o favor de cair no elevador. desci pelo elevador do mal – o da esquerda vai de leve, esse da direita é apressado, apita e estaciona de soco. conversei com o porteiro – que agora sabe a minha origem e cada dia vem com uma palavra nova. a china da lavanderia já sabe meu nome e que prefiro as roupas sem perfume. tá. aí fui pra uma cafeteria que tem na esquina de casa. dels. vi o garçom latino mais lindo do bairro. tomei leite com chá e comi tostadas com cream-queso, mientras lia mais um pouco do utilitarismo do mill e observava por cima dos óculos a ginga do garçom. escureceu. pedi a conta. deixei a gorjeta. ele até sorriu. deixei cinco pesos. ciiinco! ok. aí fui no banco porque amanhã é dia de pagar o aluguel. aí, no caminho pensei que aqui em buenos aires, se tu tá meio aburrida, é só sair na ruas e pensar que é figurante de algum filme argentino. o teu cabelo fica bagunçado e a franja sempre entra dentro dos óculos. tu sempre perdes o cachecól. os livros caem e tu sai toda retardada correndo atrás das folhas que ficam voando. os vizinhos mais lindos levam os cachorros pra passear. as senhoras discutem com os porteiros. os motoristas respeitam o sinal – isso nos dias que eu quero ver o mundo bonito, claro.
compreensão
alma tão amorosa. pessoa tão boa e importante. missões de ajudar os menos favorecidos e superar os tombos que eles te dão. isso me disse um preto velho, uma vez que fui e não desmaiei. que sou médium. que sou foda.