Fiz pública a minha fobia por tomates. Pronto. Eu odeio tomates, eu tenho MEDO de tomates. Estou há quase 20 anos me controlando com relação a isso e já não aguento mais.
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TPM
Brinquei de Barbie até os doze anos de idade. Tive uma recaída aos 13, quando fui visitar uns parentes no Mato Grosso e passei uma tarde de domingo brincando com uma prima um ano mais nova – que já está casada, tem dois filhos e, imagino, um microondas amarelo – neste dia ela me passou piolhos – ela sempre, desde que comecei a ter cabelos, me passou piolhos nas férias. Nos divertíamos tanto.
Deixei de brincar de Barbie porque todas as minhas amiguinhas começaram a ter relacionamentos reais ou, pelo menos, começaram a se apaixonar platonicamente. Nesta época meu grande amor foi o Leonardo Di Caprio, mas eu abriria mão dele se alguma delas topasse brincar comigo. Fui deixando a fantasia, também, pois o segundo grau não é um ambiente propício para bonecas, mas para vinho de garrafa plástica, cigarros e pegação. No segundo grau eu tive dois amores platônicos secretos.
Meu primeiro beijo foi aos dezesseis, a última das amigas a ter “esta experiência delirante”. Nem preciso contar que me apaixonei e que o moço nunca me deu bola, né? Nunca me deu bola vírgula, ano passado freqüentou o meu bar cativo na Santa Maria e me convidou pra dar um role. Claro que meus joelhos tremeram, mas só de lembrar o quanto chorei por ele (hahaha) empinei o nariz e disse que já era tarde. (rancor_mode_on).
Eu gosto muito da minha vida. Quando trabalhava, gostava muito do meu trabalho. Eu já adoro meu futuro trabalho – que nem sei qual será – e me vejo nele, super-me-divertindo nas madrugadas, pedindo empanadas por delivery e ensinando palavrões em português pra galere. Passo muito bem com meus colegas do mestrado. Fazer os trabalhos é um pouco pesado, mas consigo direitinho e tenho tirado boas notas.
Eu gosto muito da minha vida, mas é melhor quando estou apaixonada. Isso motiva. Impulsiona. Deixa a pele coradinha. Mas não é fácil, galere. Pouca gente leva a sério um amor levinho. Amor levinho não é putaria, não. Amor levinho inclui encontrinhos e casas separadas. Amor-levinho-bom desses que não te pressionam. Desses que se trocam e-mails surpresa, mensagem na madrugada e que tu chega a sentir saudade. Amor levinho pra escutar músicas bonitas, escrever poemas na bordinha do caderno durante a aula chata. Amor levinho pra comprar presente de natal e fazer um plano bonito pro final de semana. Ai ai.
Quando eu ainda brincava de Barbie, doze anos atrás, antes de beijar a gatinha da Barbie o Quen (m?) sempre a pedia em namoro. Depois do meu primeiro beijo, beijei um monte de gente, não sei quantos, não tenho um caderninho. Acho que foi pra recuperar os anos não-investidos. Mas sei lá, agora, com 24 anos, já não pega bem beijar um monte de gente, né? Meio que fui deixando de lado como fui deixando de lado as fantasias da Barbiel. E agora, José?
Eu não quero ter um apartamento com pé direito alto, fumar, beber conhaque de manhã e ter um gato. Na-na-ni-na-não.
os gritos
o que acontece é que nunca havia levantado a voz e sentido meu coração disparar, querer chorar, querer agredir, ter pena. o que a gente faz com alguém que não entende o mais simples de uma questão óbvia? a gente conversa. a gente dialoga. né? escrevi uns dezoito e-mails pra alguem que nem fala a minha língua, todos polidíssimos, pedindo um pouco de respeito. nunca enviei. tive pena. o problema dele vai além do real. desconheço o passado. e me sinto mal por estar pouco me importanto. dar de ombros. virar as costas. ir embora. mas o que eu queria dizer hoje enquanto ele gritava algumas coisas desconexas no español mais inintendível que alguém já me proferiu eu não disse: VAI PROCURAR UM PSIQUIATRA. é isso. questão neurológica. maconha destrói células a longo prazo. paciência de gente com boa educação também. foda-se.
mansidão
às vezes estranho coisas que não disse. geralmente acontece aos domingos, perto das cinco da tarde. lembro da surpresa de ver pela primeira vez o quarto alinhado, tenho um sentimento puro e bom, quero estar ali e nada mais. vejo o sol desenhado em quadradinhos no chão de parquet descasdado, acompanho o pé direito que é alto até a lâmpada semipendente, pela primeira vez, desligada. a veneziana semi aberta me direciona a lugar nenhum, talvez para a parede do quintal onde criavam os ratos, ou para algum resto de céu azul iluminado, com poucas núvens. são aproximadamente cinco da tarde, frio de julho da santa maria, o velho casaco de veludo cotelê marrom se confunde com os cobertores sujos. as portas cinzas, embaraçosamente abertas, desviam minha atenção, que, naquela tarde, não queria se importar com nada além das quatro mãos e das duas bocas sorridentes. mas as portas abertas e o vento do corredor a desviam e, logo, o desprezo toma o lugar da fantasia, o mesmo cheiro cinza e o mesmo vazio. ele, eu e nada. volto a ficar sozinha.
às vezes estranho coisas que não disse naquela tarde, me encolho, aceito a condição e volto a trabalhar.
avec elegance
descritiva
aprecio meus momentos de graça. quando estou consciente de que preciso pensar minha criatividade definha. não gosto de ser observada enquanto tramo os pensamentos. funciono bem comigo mesma, embora meu combustível atual seja a coletividade. ser adulta me tira a liberdade.
mesmo assim, continuo boa atriz. sou feliz e não nego. tenho a maior força do mundo quando as coisas me são de fato. quero conhecer além da liberdade do que é. não sei explicar. às vezes encontro a minha mesma numa pluma que me voa aos pés. às vezes me perco diante do espelho.